Rendimento de renda fixa em alta: CDB e LCA registram picos em junho de 2025
O mês de junho trouxe uma grata surpresa para quem investe em renda fixa: CDBs e LCAs atrelados à inflação ofereceram retornos mais generosos, enquanto os papéis pós-fixados, indexados ao CDI, tiveram queda nas taxas. O movimento reforça a importância de acompanhar a dinâmica entre os diferentes indexadores da renda fixa para não perder rentabilidade.
Essa mudança de cenário é consequência direta do comportamento da taxa Selic, da demanda crescente por segurança em um ambiente ainda incerto, e das projeções fiscais pouco animadoras. A combinação desses fatores provocou um reposicionamento estratégico por parte dos emissores e também uma mudança no apetite dos investidores.
Títulos indexados à inflação voltam a brilhar
Os CDBs e LCAs atrelados ao IPCA se destacaram em junho ao pagar prêmios reais maiores do que no mês anterior. Em um cenário de risco fiscal crescente e expectativas inflacionárias mais elevadas, a remuneração desses papéis subiu para compensar os riscos assumidos pelo investidor.
Os CDBs com vencimento em 12 meses pagaram, em média, IPCA + 9,18%, enquanto as LCAs do mesmo prazo ofereceram IPCA + 7,76%. Em maio, essas taxas estavam em IPCA + 8,97% e IPCA + 7,41%, respectivamente. A alta evidencia uma preocupação do mercado com o horizonte fiscal do país e o esforço dos bancos para atrair recursos diante de um cenário mais adverso.
Para Anderson Kuntzler, planejador financeiro e CFP, a elevação nos prêmios reais é uma resposta clara ao aumento da percepção de risco. “A dívida pública crescente, os gastos do governo e a deterioração das expectativas de inflação exigem um prêmio maior para manter a atratividade desses papéis”, afirma.
Queda nos pós-fixados revela movimento de defesa
Se os papéis atrelados ao IPCA chamaram a atenção pelo aumento da rentabilidade, o mesmo não se pode dizer dos títulos pós-fixados. Em junho, as taxas médias desses ativos recuaram, tanto nos CDBs quanto nas LCAs, especialmente nos prazos mais curtos.
No caso dos CDBs de seis meses, a taxa caiu de 99,72% para 98,67% do CDI. Já nos de 36 meses, a média passou de 100,71% para 100,33% do CDI. Nas LCAs, a queda foi semelhante: os títulos de 36 meses pagaram 92,18% do CDI, abaixo dos 92,66% de maio.
De acordo com Joaquim Neto, sócio da GT Capital, o fenômeno tem duas explicações: o aumento do custo de captação dos bancos após o ciclo de alta da Selic, e a preferência dos investidores por produtos com maior previsibilidade diante do ambiente macroeconômico mais volátil. “A maior procura por pós-fixados pressiona os bancos a reduzirem as taxas oferecidas”, explica.
Prefixados: estabilidade no curto prazo, cautela no longo
Os títulos prefixados apresentaram comportamento misto em junho. Houve aumento nas taxas de papéis de curto prazo, enquanto as remunerações dos títulos com vencimentos mais longos recuaram discretamente, revelando uma postura mais conservadora dos emissores.
Os CDBs com vencimento em seis meses pagaram, em média, 14,45% ao ano, acima dos 14,21% registrados em maio. Em contrapartida, os papéis de 24 meses caíram de 13,65% para 13,59% ao ano. No segmento de LCAs, o comportamento foi parecido: as taxas de seis meses subiram, mas os títulos de 36 meses recuaram ligeiramente para 11,96% ao ano.
O movimento indica que os emissores estão mais confortáveis em oferecer prêmios mais altos no curto prazo, onde o cenário é mais previsível. Já nos prazos longos, a cautela prevalece. Isso mostra a importância de o investidor avaliar com atenção o prazo de vencimento e o tipo de indexador antes de aplicar.
LCAs ganham destaque pela isenção de IR
Um fator que tem pesado cada vez mais na escolha entre CDB e LCA é a isenção de Imposto de Renda nas LCAs, que torna esses papéis muito competitivos, especialmente em momentos de compressão nas taxas dos CDBs.
Para fazer a comparação justa entre os dois, é preciso aplicar o chamado gross up, ou seja, transformar o rendimento da LCA isenta em um equivalente bruto que possa ser comparado ao CDB tributado. E os números falam por si.
Kuntzler estima que uma LCA de 24 meses, que pagou 91,11% do CDI, equivale a um CDB que rendesse 107,19% do CDI após o IR. No entanto, os CDBs de 24 meses pagaram, em média, apenas 99,34%. O mesmo acontece nos títulos de 36 meses: uma LCA que rende 92,18% equivale a um CDB de 108,45% do CDI, muito acima da média real dos CDBs desse prazo.
Cenário futuro: o que observar nos próximos meses
Com a Selic em 15% ao ano, o rendimento nominal da renda fixa ainda é extremamente atrativo. No entanto, a expectativa é que o Banco Central comece a discutir cortes de juros no final de 2025 ou início de 2026, o que pode alterar o desempenho dos diferentes indexadores.
Se os juros caírem, os prefixados e os papéis atrelados à inflação tendem a se valorizar, já que travam rendimentos maiores por mais tempo. Por outro lado, os pós-fixados perdem parte de sua atratividade, o que pode levar a uma nova migração dos investidores.
Além disso, as incertezas fiscais e eleitorais devem continuar pesando nas decisões dos emissores e investidores. O risco político em torno das contas públicas e da condução da economia segue no radar e pode provocar oscilações nas taxas ofertadas.
Conclusão: oportunidades com inteligência
O mês de junho mostrou que a renda fixa continua sendo uma peça fundamental nas estratégias de diversificação e segurança dos investidores brasileiros. Porém, dentro dela, os movimentos entre CDBs, LCAs, prefixados, pós-fixados e indexados à inflação exigem análise mais criteriosa e postura ativa.
As LCAs ganham destaque com a isenção de IR e rentabilidade líquida superior. Os títulos atrelados ao IPCA brilham como proteção inflacionária em tempos de incerteza. Já os pós-fixados ainda cumprem seu papel, mas com taxas mais ajustadas à nova realidade de captação.
A lição principal é que, na renda fixa, nem sempre o maior número nominal significa melhor retorno. Avaliar liquidez, prazo, tributação e cenário macro é essencial para tomar boas decisões. E, claro, estar pronto para rebalancear a carteira à medida que o jogo da economia evolui.
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